Michel trabalhava em um hotel
fazenda como instrutor de pesca. Seguro de si, por vezes ria intimamente dos
erros cometidos pelos pescadores iniciantes. Eles pareciam tão tolos. Pescadores
de final de semana.
Com certeza, o tipo mais
extravagante que ele já conhecera era aquele que estava em sua frente. Parecia
um modelo de catálogo de roupas esportivas.
O colete de pescaria era
novo. Estava tão duro que parecia engomado. Todo o equipamento de pesca reluzia.
Era especialmente novo. O feltro das botas era branco como neve. A vara de
pescar nunca tinha sido usada e a carretilha estava montada na posição
contrária.
Rico e exigente, pensou o
instrutor.
No entanto, quando estendeu a
mão recebeu um aperto forte e sincero.
A mulher do principiante
tirou uma foto como lembrança e depois os deixou a sós.
O instrutor acertou a posição
da carretilha. O aprendiz deu de ombros e riu de si mesmo. A lição de arremesso
da linha foi ali mesmo no gramado. Depois foram para o rio.
Quando o principiante apanhou
o primeiro peixe, soltou gritos de alegria. Na sequência, a cada peixe que
pescava, fazia novos comentários.
Não é lindo? Fantástico?
Maravilhoso? Enfim, todos os peixes, não importando o tamanho, eram louvados
como pedras preciosas.
Quando, ao final da tarde, a
pescaria acabou, ele se voltou sorridente e agradecido para o instrutor e
confessou:
Quero lhe dizer uma coisa.
Este foi um dos melhores dias da minha vida. Não era para eu estar aqui agora.
Estive muito doente e os médicos acreditaram que eu não sobreviveria. Mas eu
acreditei que sobreviveria. Melhorei muito e minha mulher me deu de presente
todo este equipamento porque sempre desejei pescar com isca artificial. Esta
viagem é uma espécie de comemoração para nossa família.
O instrutor ficou sem fala.
Ele pensara tantas coisas a respeito daquele homem, que parecia quase um tolo, a
gritar de alegria por cada peixe retirado da água.
E, contudo, ele estava
comemorando a vida. A sua saúde. A possibilidade de ficar com os seus, na Terra,
por mais um período.
Quando o instrutor o deixou
na cabana, onde a esposa e os filhos o esperavam, pôde perceber que a nuvem
escura que pairava sobre eles havia passado. Que eles podiam se divertir com
algo tão simples como férias em família.
Enquanto retornava para seu
próprio lar, o instrutor pensou que, no dia seguinte, partiria ao encontro de um
novo pescador.
Mas, com certeza, nunca mais
permitiria que roupas engomadas e caras ou uma carretilha ao contrário o
levassem a acreditar que o aprendiz não teria alguma coisa para lhe
ensinar.
* * *
A vida é uma escola
inesgotável. A natureza é mestra.
São mestres todos os seres.
Alguns nos ensinam a paciência, outros a gratidão.
Alguns são mestres em
renúncia e sabem conjugar o verbo ajudar de uma forma muito especial.
Aqueles que são espontâneos,
que sabem sorrir com facilidade, que explodem em adjetivos pelo sol que nasce, a
chuva que cai, a grama que cresce nos ensinam que o espetáculo da vida é
inigualável.
Que ela é feita de pequenas
coisas que são extremamente importantes. Basta que saibamos olhar, descobrir,
desfrutar.
Um dia de pescaria, de
Seleções Reader´s Digest, de agosto de 2000.
"Por mais longa que seja a
caminhada o mais importante é dar o primeiro passo."/Vinícius de
Moraes
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