segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Mulher Submissa


A MULHER SUBMISSA.
 
O Espiritismo não encampa qualquer idéia de rebaixamento da mulher em relação ao homem nem vice versa. Segundo O Livro dos Espíritos, "são os mesmos Espíritos que animam homens e mulheres". E a escolha que motiva uma ou outra experiência, em corpo masculino ou feminino, obedece às suas necessidades de progresso. Como devem progredir em tudo, "cada sexo, como cada posição social, lhes oferece provas e deveres especiais, oportunidade de adquirir experiência, conhecimento". Se reencarnassem somente numa ou outra condição, teriam um progresso deficitário, incompleto e estariam impedidas de alcançar a perfeição que requer amor e sabedoria.
 
Na visão espírita, a condição de homem não lhe assegura nenhuma autoridade particular sobre a mulher. Superioridade só a moral e a exercida pela posição de mando ou autoridade na hierarquia social. Mas isso não é privilégio do homem porque a mulher detém também, a seu turno, essas posições. No mundo espiritual, a autoridade é a moral, exercida naturalmente por homem ou mulher que a detenha por mérito do seu progresso. Por isso, toda discriminação e preconceito, segundo a ótica espírita, são contrários a caridade e tidas como atitudes anticristãs. Nesse caso, não há diferença entre machismo ou feminismo, quando fora dos padrões naturais da relação homem-mulher na sociedade.
 
Vem das raízes da civilização ícones como Adão e Eva, mais ou menos comuns a todas as crenças e lendas antigas, com diferenças apenas de enfoque cultural próprio de cada povo, compondo a versão religiosa sobre a origem do homem na Terra. É uma versão inerente a uma época e a um povo que não tinham ainda as informações da ciência. É como a criança que assimilou durante muito tempo a lenda da Cegonha, na interpretação ao seu alcance sobre o ato do nascimento do bebê. Foi entre esses povos que a idéia de inferioridade da mulher ganhou força pela crença quase generalizada de que ela era a clonagem feminina do homem. Se o Gênesis dizia que a mulher foi feita a partir de Adão, ela era com justiça uma espécie de propriedade dele. Não lhe devia a própria vida?
 
Depois vem o episódio do pecado original no paraíso terrestre, em que a mulher, tentada pelas fantasias da serpente, leva o homem ao erro. E Deus, ofendido, decreta: "Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás a luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o teu domínio". A essa sentença foi incorporada toda uma ordem de restrições e discriminações à mulher, transformada em escrava passiva do homem. Sara chega a pedir ao marido Abrahão que lhe dê um filho com a escrava Agar. Foi imposta à mulher à morte por apedrejamento pelos mesmos que a prostituíram, como na narrativa da mulher adúltera. Os fariseus, que faziam do seu saber uma arma de domínio sobre a massa inculta, saíam dos templos olhando para o chão para não encarar as mulheres. Buda também não permitia que seus seguidores olhassem para elas. Sócrates chegou a xingá-las-las. Havia uma oração judaica que dizia: "Agradeço-te, ó Deus, por não me teres feito mulher..." Paulo, Pedro, Agostinho, Lutero revelam-se ríspidos para com a mulher. Pedro recomendava a submissão da mulher ao marido, "como Sara que obedecia a Abrahão chamando-o Senhor". Paulo escreve a Timóteo dizendo: "Não permito à mulher que ensine, nem que se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio, com Espírito de submissão".
 
Eles também falaram bem da mulher. Mas foi Jesus Cristo, chamado mais Filho de Maria do que de José, que tomou as dores pela mulher. Desde o início da sua pregação, Ele criou um novo conceito da mulher, como escreve Alenksandr Mien, em Jesus, Mestre de Nazaré. A partir dele, o lugar da mulher não se limitou mais ao lar doméstico. Por isso, no seu grupo de seguidores mais íntimos brilharam mulheres como Maria sua mãe; Madalena, a obsidiada; Marta e Maria, irmãs de Lázaro; Salomé, mãe de João e Tiago; Maria, mulher de Cleófas; Suzana e Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes Antipas, entre outras. Jesus dialogou com a samaritana e enfrentou a censura de Simão, o fariseu, e seus convivas ao permitir que uma pecadora lhe lavasse os pés e os enxugasse com os cabelos. E disse à adúltera ameaçada de apedrejamento: "Eu também não te condeno; vás e não peques mais".
 
Como vemos, o feminismo surgiu com Jesus. Foi a uma mulher, em Samaria, que Ele se revelou o Messias Divino. Foi também a uma mulher a quem Ele se apresentou, primeiro, depois do drama do calvário, revelando-lhe a imortalidade. Jesus mostrou que não quer a mulher subjugada, submissa, anulada. Quer a mulher lutadora como foi Madalena, equilibrada, sensata, compenetrada no seu papel de mulher, consciente na sua missão em família, das suas atribuições no lar e na sociedade, na condição de parceira leal do homem (e ele dela) na implantação do Reino de Deus pela regeneração da Humanidade. O Espiritismo incorpora tudo isso, ao esclarecer que "a emancipação da mulher segue o progresso da civilização, enquanto que a sua subjugação caminha com a barbárie".
 
(Do Livro "Aprendendo a Lidar com as Crises" - Wanderley Pereira).
 
Obs: Para este autor e como para muitos outros das hostes Espíritas, a mulher adúltera não foi Madalena.
 
Fraternalmente.
 
Luciana Lins