Para amar o próximo...
Richard Simonetti
Na célebre passagem evangélica, pergunta o doutor da Lei (Mateus, 22:36-40):
– Mestre, qual é o grande mandamentona Lei?
Responde Jesus:
– Amarás o senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E há o segundo, semelhante ao primeiro:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Nesses dois mandamentos estão a lei e os profetas.
Quando Jesus fala que o segundo é semelhante ao primeiro, demonstra, evidentemente, que não podemos amar a Deus sem amar o próximo, porquanto não há melhor maneira de demonstrar afeto por alguém do que querendo bem ao seu filho.
Impensável alguém dirigir-se a um pai, nestes termos:
– Gosto muito de você, mas detesto seu filho!
E Jesus estabelece a medida com a qual devemos amar o próximo para que estejamos amando a Deus: que o façamos como a nós mesmos.
É fácil perceber a razão pela qual não amamos o próximo – é que não amamos a nós mesmos.
A característica básica da personalidade humana é o egoísmo, e onde ele impera pode haver paixão, mas dificilmente haverá lugar para o amor.
A paixão situa-se nos domínios dos instintos, procura apenas a autoafirmação, o prazer a qualquer preço, sem perspectivas além da hora presente, e sem aspirações mais nobres.
O amor situa-se nos domínios do sentimento e só se satisfaz com os valores da dedicação, do sacrifício, da renúncia, das realizações mais nobres em favor do ser amado.
É a paixão por si mesmo que leva o indivíduo a buscar a satisfação dos sentidos no vício e no desregramento...
É a paixão por si mesmo que lhe inspira a ânsia de poder e riqueza...
É a paixão por si mesmo que o faz comportar-se como uma criança, habituada a bater os pezinhos a reclamar em altas vozes porque não lhe deram o brinquedo desejado, porque a Vida não atendeu às suas aspirações...
Em lugar dessa paixão desvairada que tanto nos compromete é preciso edificar o amor.
O caminho é a caridade, a ser exercitada em duas frentes: o corpo e o Espírito.