VIDA E
MORTE
A teimosa
insistência negativa dos conceitos humanos, em torno das legítimas realidades da
vida, faz que se conserve o verbete "morte" como sendo a expressão capaz de
traduzir o aniquilamento do ser, no estágio posterior ao da decomposição
orgânica.
Em verdade, porém, a desencarnação de forma alguma pode ser
conceituada como o fim da vida.
Do lado de cá pululam seres que se
localizam felizes ou inditosos em regiões compatíveis com o seu estado mental,
em que a vida se lhes manifesta conforme o que trazem da jornada fisiológica, na
qual edificaram propósitos e realizações, fixando ideias, plasmando objetivos,
que defrontam depois do traspasse orgânico.
A perda do envoltório carnal
não os santificou, não os desgraçou, não os extinguiu. Situou-os na dimensão em
que cada um preferiu, mantendo os hábitos de prazer ou de renúncia com que se
agraciam, mediante as realizações contínuas que vitalizaram pelo
pensamento.
Multiplicam-se, povoadas de dores, as paisagens de sombras e
as províncias de angústias, como se sucedem os panoramas de bênçãos e os painéis
de luz, sustentados pelos valores pessoais intransferíveis, que identificam os
viandantes recém-chegados da Terra...
Há, todavia, se assim desejarmos,
um estágio espiritual que pode ter sido, transitoriamente, como um estado de
morte: é o da consciência obliterada para a verdade, anatematizada pelos
remorsos infelizes e pelos arrependimentos tardios; o da razão vencida pela
revolta contumaz e pela toxicidade do ódio demoradamente conservado; o da
inteligência gasta na inutilidade e no comércio do prazer fugaz...
Para
tais espíritos há um demorado estado
de morte, porque a perda do roteiro interior atira-os num dédalo onde não
defrontam a luz nem encontram a esperança, terminando por anestesiarem os
centros do discernimento longamente.
E não é por outra
razão, conforme se refere o Mestre, que Deus não é o Senhor dos mortos, mas,
sim, dos vivos.
Libertemo-nos das vendas que impedem a visão espiritual e
dos vapores dos vícios que anestesiam, a fim de que a consciência livre nos
enseje vida e sempre vida abundante.
(De “Intercâmbio
mediúnico”, de Divaldo P. Franco, pelo Espírito João
Cléofas)