Francisco
Cândido Xavier / Emmanuel
Religião dos
Espíritos
20
Carrasco
Reunião pública de
20/3/59
Questão nº 913
Questão nº 913
Verdugo invisível, onde se
lhe evidencie a influência, aparecem a rebeldia e o azedume, preparando a
perturbação e a discórdia.
Mostra-se na alma que lhe
ouve as pérfidas sugestões, à maneira de fera oculta a atirar-se sobre a presa.
Assimilando-lhe a faixa de
treva, cai a mente em aflitiva cegueira, dentro da qual não mais enxerga senão
a si mesma.
E assim dominada, a criatura,
ao pé dos outros, é a personificação da exigência, desmandando-se, a cada
instante, em reclamações descabidas, incapaz de anotar os sofrimentos alheios.
Pisa nas dores do próximo com a dureza do bronze e recebe-lhe as petições com a
agressividade do espinheiro, expelindo pragas e maldições. Onde surge, pede os
primeiros lugares e, se lhos negam, à face das tarefas que a previdência
organiza, não se peja de evocar direitos imaginários, condenando, sem análise,
tudo quanto se lhe expõe ao discernimento. Desatendida nos caprichos
particulares com que se aproxima dos setores de luta que desconhece, mastiga a
maledicência ou gargalha o sarcasmo, lançando lodo e veneno sobre nomes e
circunstâncias que demandam respeito. Se alguém formula ponderações,
buscando-lhe o ânimo à sensatez, grita, desesperada, contra tudo o que não seja
adoração a si mesma, na falsa estimativa dos minguados valores que carrega no
fardo de ignorância e bazófia.
E, então, a pessoa,
invigilante e infeliz, assim transformada em temível fantasma de incompreensão
e de intransigência, enrodilha-se na própria sombra, como a tartaruga na
carapaça, e, em lastimável isolamento de espírito, não sabe entender ou perdoar
para ser também perdoada e entendida, enquistando-se na inconformação, que se
lhe amplia no pensamento e na atitude, na palavra e nos atos, tiranizando-lhe a
vida, como a enfermidade letal que se agiganta no corpo pela multiplicação
indiscriminada de perigosos bacilos.
Atingido esse estado d’alma,
não adota outro rumo que não seja o da crueldade com que, muitas vezes, se arroja
ao despenhadeiro da delinqüência, associando-se a todos aqueles que se lhe
afinam com as vibrações deprimentes, em largas simbioses de desumanidade e
loucura, formando o pavoroso inferno do crime.
Irmãos, precatai-vos contra
semelhante perseguidor, vestindo o coração na túnica da humildade que tudo
compreende e a todos serve, sem cogitar de si mesma, porque esse estranho
carrasco, que nos alenta o egoísmo, em toda parte chama-se orgulho.