A mulher, na
época de Jesus, estava condenada a viver uma situação de inferioridade. Elas
eram subjugadas pelos homens. Sofriam todo
tipo de preconceito. A lei era muito mais pesada para elas do que para
eles. Mas Jesus estava sempre rodeado de mulheres. Eram pobres, destinadas ao
abandono, miseráveis que seguiam Jesus.
Há uma linda história de mulheres em O livro das virtudes Ii, de William Bennett, que conta um fato
acontecido na Alemanha, na Alta Idade Média. Foi no ano de 1141.
Wolf, duque da Bavária, estava cercado em seu
castelo, sitiado pelos exércitos de Frederick, duque da Suábia, e de seu
irmão, o imperador Konrad.
O cerco vinha de muito tempo e não havia mais nada
para ser feito. Wolf resolveu se entregar ao pior de seus inimigos. As
mulheres desses homens, entretanto, resolveram
enviar
uma mensagem a Konrad, pedindo ao imperador um salvo-conduto para elas. Que
saíssem do castelo sem nada sofrer e que fossem autorizadas a levar
todos os bens
que
pudessem carregar.
A permissão foi
concedida, e os portões do castelo se abriram. As mulheres foram saindo, trazendo
uma estranha carga. Não era ouro. Não eram joias. Não eram pedras
preciosas nem vestes ornamentadas. Cada uma vinha curvada com o peso do marido
na esperança de salvá-los da vingança do vitorioso.
Diz a história que Konrad, homem
bom e piedoso, se comoveu com a linda história de amor. Chorou diante daquela atitude extraordinária e garantiu
às mulheres e aos maridos liberdade e segurança. Convidou todos para um
banquete e celebrou a paz com o duque da Bavária.
Desde então, o monte do castelo passou a ser chamado de Monte de
Weibertreue, que quer dizer "lealdade feminina'
Há muitas histórias semelhantes que mostram que
não é o ódio que tem o poder de combater o ódio, mas o amor. Jesus não
tratou ninguém com ódio.
No texto de São João, Jesus se encontra com uma
mulher. Imaginemos que Jesus estava cansado e parou um pouco para beber
água. Viu uma mulher de uma forma que só Ele viu. Ela era samaritana. Ele,
judeu. Os judeus desprezavam os samaritanos e mais ainda as mulheres samaritanas.
É a essa mulher desprezada que Jesus se revela. Primeiro, Ele pede água. Ela se
surpreende com o pedido porque a conversa
entre eles não seria natural. Ela achava que esse homem judeu nem sequer
fosse cumprimentá-la. Ela se imaginava invisível aos
homens e mais ainda aos judeus. Jesus, de fato, era um homem
diferente.
Jesus muitas vezes falava por metáforas. A água que
a mulher imaginava ser do poço
era uma água viva. Era uma água que tinha o poder de saciar a necessidade
física e a necessidade espiritual. Em um primeiro momento, a mulher não
entendeu. Nem mesmo quando Ele explicou.
Jesus foi além e tocou no coração daquela mulher tão sofrida. Ela já havia tido
cinco maridos e sofria com o atual. E Jesus sabia de tudo isso.
Imaginemos a surpresa da mulher. Um judeu, que em tese nem teria olhado para
ela, conhece em detalhes a sua história.
Sabe de sua dor, de suas angústias e medos. Conhece suas
necessidades.
Os apóstolos estranham o tempo que Jesus gasta com
aquela mulher samaritana Mal sabem eles que a ela Ele se
revelou.
"
Vamos refletir um pouco mais sobre esse conceito de gastar tempo' Jesus não se
incomoda com o fato de ela ser samaritana, de já ter tido muitos
maridos, de ser mulher, enfim. Ele quer saciar a sua sede.
A mulher samaritana representa a
multidão de mulheres e homens que são discriminados. Pessoas que vivem à margem
da sociedade porque são vistas como menos puras, menos santas, menos ricas,
menos nobres. Pessoas para as quais pouca gente daria atenção. Jesus é
surpreendente. Ele não se preocupa com o que vão dizer as outras pessoas. Se há
alguém com sede, ele está pronto para dar a água que tem o poder de saciar a
sede. A sede material e a sede espiritual.
Jesus cuida de tudo. Ele não despreza as necessidades primeiras daquela mulher.
Ele compreende a sua aflição e o seu cansaço. Tinha de andar sempre em
busca de água para alimentar a si e aos seus. É essa a sua preocupação. Jesus
compreende. Usa a sua linguagem e, aos poucos, toca o coração daquela mulher e
lhe apresenta algo imaterial que transcende ao tempo e ao espaço, que não
termina nunca. De que temos sede?
Sede de atenção?
Sede de amor?
Sede de reconhecimento?
Sede de paz?
Sede de felicidade?
Sede de uma história de vida com significado?
Jesus
vem ao nosso encontro, independentemente do que as pessoas pensem de nós, que
nos discriminem ou riam de nós. Ele não repara em nossas vestes
rasgadas, tampouco em nosso coração ferido. Ele vem, gasta tempo conosco e nos
oferece a água que nos restaura.