O
mandamento maior ( por
FANTINO FELIPE )
Recebia o pequeno grupo de espíritos que voltavam ao término de mais uma
vida vivida na Terra, um luminoso espírito, imponente com suas vestes
resplandecentes de luz. Era ele o porteiro do Céu. Examinando as fichas dos
recém-vindos, foi chamando-os pelo nome: “Vicente, pode se aproximar, meu
irmão”.
Soberbo, adiantou-se um espírito envergando uma batina de padre. “Que
trazes da Terra?”, interpelou o porteiro com
afabilidade.
–
Trago o coração cheio de amor a Deus, nosso Pai. Amei-O com toda a devoção.
Dediquei minha vida a Ele como sacerdote da Igreja Romana. Distribuí 1.523.578
hóstias do Santíssimo Sacramento. Ouvi 557.372 fiéis em confissão e os absolvi
de seus pecados. Rezei 32.200 missas e agora busco o meu lugar de direito no
Céu, ao lado de Deus Pai Criador.
– No
entanto, vejo-te o coração obscuro. Fizeste tudo isso, é verdade, mas esqueceste
que o amor a teus irmãos deveria ser o móvel de teus dias. Afastaste-te deles,
apenas ministrastes os sacramentos. Volta à Terra. Precisas aprender a amar aos
teus irmãos, filhos do mesmo Pai que já amas. Foste orgulhoso e distante,
encastelado em uma pretensa superioridade.
– O
próximo! Ezequiel, pode se aproximar. Vejo que pertenceste às Igrejas
Reformadas.
– Com
todo o orgulho! Servi a Deus fielmente. Amei a Bíblia. Tenho-a inteiramente
gravada, versículo por versículo em minha memória e em meu
coração.
– Mas
que bem espalhaste?
– O da
palavra! Preguei com voz veemente. Usei o verbo para investir contra o mal onde
quer que ele se encontrasse. Condenei os pecadores e os afastei do recinto
sagrado da Igreja. Agora os eleitos aguardam a recompensa do
Altíssimo.
– Meu
irmão, falhaste enxergando o mal onde existia apenas uma oportunidade de
renovação da criatura. Esqueceste que Jesus veio para os doentes e os pecadores?
Volta à Terra abençoada e aprende a amar a teus irmãos
incondicionalmente.
Eis a
vez de Atílio, que foi ateu. “Que trazes do Planeta,
amigo?”
– Eu?
Nada. Estava tão ocupado atendendo a orfandade da Terra que não tive tempo para
me ocupar com Deus. Sequer sabia se ele existia mesmo, como diziam. Creio que
não faço jus a um lugar no Céu, dada a minha descrença Naquele que, agora vejo,
é o Senhor de tudo.
–
Fizeste bem em socorrer aos teus irmãos. Isso basta.
Entra.
– Mas
como? – bradaram todos. Ele não professou religião
alguma!!
–
Professou a verdadeira: a da caridade. Jesus não disse que chamaria a Si aqueles
que Lhe tivessem dado de comer, de beber, vestido e visitado? Pois ele fez tudo
isso. Quanto a vocês, meus queridos, voltem e façam o
mesmo.
Ante a
voz sábia e justa da razão amorosa, ali, no país da verdade, onde as desculpas e
ilusões da Terra não mais prevalecem, renderam-se à evidência de que
necessitariam internar-se novamente no educandário terreno, pois já sabiam amar
a Deus sobre todas as coisas, mas precisavam aprender a amar ao próximo como a
si mesmos.
Agora encaixe o espírita
nessa história. Como ele seria recebido? Ele entraria no “Céu”? Que argumentos
ele teria a seu favor? Que ilusões poderia ter
cultivado?
Mensagem psicografada pela
médium Célia Elmy em 20 de agosto de 2005, em Tremembé, SP.