OFÍCIOS DA
ALMA
Assunto digno de ser examinado com
profundez. Pensemos nele. Você já verificou a dificuldade que encontramos para
viver a existência que é nossa, isto é, o dever que o mundo nos
confiou?
Habitualmente solicitamos a
reencarnação, antes do berço, com o empenho dentro do qual suspiramos por
emprego digno nas atividades terrestres. No plano físico disputamos cargos
rendosos, na esfera espiritual pedimos encargos
edificantes.
Interpretemos os compromissos a que
nos impomos, na experiência humana, como sendo ofícios da alma. Requisitamos
ofícios de pai, mãe, esposa, filho, filha, irmão e irmã e tarefas múltiplas
tituladas diversamente no quadro das missões de natureza
moral.
Recebidas as concessões, quando já nos
achamos na oficina do mundo, não raros, eis-nos à caça de fuga, incapazes de
aceitar o trabalho que nos pertence.
Tal fato quase sempre acontece no lar,
onde somos exortados ao serviço que imploramos, para dar mostras de nossa
habitação aos apostolados maiores, junto da Humanidade.
Revelados os problemas que nos cabem
resolver, adornamo-nos com pretextos medidos a gesto brando e repetimos antes da
deserção: “fiz o que era possível”, “não tenho culpa”, “sei que estou com a
razão” ou “isso não está nas minhas forças”.
Se usufruímos posição de ceder,
queremos tomar. Se precisamos testemunhar obediência e disciplina, adotamos
aspiração ao mando favorecendo o desequilíbrio.
Da atitude desarrazoada à frente das
pequeninas iniciativas de renúncia construtiva a que somos chamados, passamos da
união à separação, do estímulo do louvor ao vinagre da queixa, do esclarecimento
ao bate-boca, da vigilância à aventura.
Atingido esse ponto, somos tão-somente
a pessoa frustrada, para quem os Bons Espíritos — mesmo os benfeitores que nos
auxiliaram a renascer — conseguem por acréscimos de misericórdia, na
Benemerência Divina, uma ou outra ocupação deficitária.
Aproveita-se desse modo, nos
princípios de bondade, os salvados de naufrágio ou de incêndio, que, no caso
mostram maior teor de lástima, de vez que são vítimas de desastres morais
provocados por eles próprios.
Se você suporta conosco o exame deste
tema, medite enquanto pode compreender-nos tranquilamente.
Tolere a responsabilidade presente,
esquecendo-se para melhor cumpri-la. Todos vivemos facilmente, muito difícil é e
será sempre viver a existência que é nossa.
Mas não se iluda. Ser-nos-á possível
fugir ao dever por séculos e séculos, mas estejamos convencidos de que a nossa
obrigação tem o nosso endereço e, de qualquer maneira, se encontra a caminho
procurando por nós.
(De “Técnica de Viver”,
de Waldo Vieira, pelo Espírito de Kelvin Van
Dine)